Peça publicitária usa foto de menino sírio morto e causa polêmica na Paraíba
Uma
peça publicitária veiculada em João Pessoa causou polêmica esta semana
por ter usado a imagem do menino sírio morto em uma praia da Turquia,
registrada no início de setembro. A foto foi estampada em um outdoor em
alusão ao Dia das Crianças e era acompanhada da frase “O futuro de
nossas crianças não pode morrer na praia”.
Peça publicitária usou foto de menino sírio morto naTurquia (Foto: Reprodução/GCA Comunicação)
A Abap ainda enfatizou que a fotografia foi utilizada sem o devido
crédito e, aparentemente, sem a autorização do fotógrafo. O órgão também
alertou que a agência GCA Comunicação está sujeita a possíveis sanções
legais e de responsabilidade social.Nas redes sociais, internautas
mostraram revolta pela utilização da foto. “Ato covarde e despudorado”,
disparou Everaldo de Andrade Souza na internet.
“Não quero julgar ou criticar a intenção, mas imagine você, que criou
esse anúncio, ver a foto do seu filho morto em outdoors espalhados por
aí. A questão não é a criatividade ou a intenção, que sei que foi das
melhores, mas o lance aqui é o fato e a foto usada”, publicou o
internauta Marcell Mendonça.
Nesta quarta-feira (14), a Associação Brasileira das Agências de
Publicidade – seccional Paraíba (Abap-PB) emitiu uma nota de repúdio à
peça intitulada “Publicidade não é um vale tudo”. No documento, a Abap
diz que os publicitários devem ser “conduzidos pelo código de ética
profissional e pelo bom senso”.
“Em um fim de semana e feriado dedicados a nos lembrar da alegria e
esperança que as crianças despertam na sociedade, a publicidade
paraibana foi maculada com uma peça publicitária que pode ser definida
como desproporcional e desnecessária”, diz a nota.
A agência também se manifestou depois da polêmica. Em uma nota de
esclarecimento intitulada “A hora dos indiferentes”, a GCA Comunicação
afirma que “a data seria apropriada para uma reflexão profunda do que se
passa com crianças aqui e em outras partes”. Para a empresa, a
fotografia do menino sírio levaria os cidadãos a fazerem essas
reflexões.
A GCA também ressaltou que a foto não foi usada para a venda de um
produto e sim para “que lembrássemos que o futuro de nossas crianças não
pode morrer na praia”. “Ficam chocados com uma imagem que foram, de
certa forma obrigados a ver, mas não se importam com aquelas que o
descaso e a indiferença fazem questão de esconder dos olhos e da alma”,
pontua o texto da agência.
Veja a nota de repúdio da Abap-PB na íntegra:
PUBLICIDADE NÃO É UM VALE TUDO
Em um fim de semana e feriado dedicados a nos lembrar da alegria e
esperança que as crianças despertam na sociedade, a publicidade
paraibana foi maculada com uma peça publicitária que pode ser definida
como desproporcional e desnecessária.
A atividade publicitária tem como principal objetivo direcionar o
interesse do público para determinadas marcas e, em quem é atingido por
ela, despertar uma ação favorável à empresa, mas isso não nos exime da
responsabilidade social de sempre sermos conduzidos pelo código de ética
profissional e pelo bom senso. Não estamos em um vale tudo e, na sua
vontade desenfreada de impactar, a agência extrapolou esses dois pontos.
Acreditando estar fazendo um bom trabalho, acabou deixando evidente o
despreparo profissional e chegando ao ponto de ser veiculado o outdoor
nas principais avenidas da Capital sem a devida análise de como poderia
repercutir. Agravando a situação, temos a exposição da fotografia sem o
devido crédito e aparentemente sem a autorização do fotógrafo para uso
da mesma.
A Associação Brasileira das Agências de Publicidade – seccional
Paraíba (Abap-PB), repudia tal peça publicitária, alertando para as
possíveis sanções legais e de responsabilidade social às quais a agência
está sujeita.
Torcendo para que episódios como esse não se repitam, a Abap-PB
espera que este momento sirva de reflexão e que ajude o mercado
paraibano a crescer, se tornando referência em peças criativas e com
mensagens positivas à toda sociedade.
Abap-PB
Veja a nota de esclarecimento da agência na íntegra:
A HORA DOS INDIFERENTES
A hipocrisia não é um privilégio nosso, mas é um sentimento que
grassa mundo afora. Na comemoração do dia da Criança produzimos um
outdoor, levando em conta que a data seria apropriada para uma reflexão
profunda do que se passa com crianças aqui e em outras partes.
A fotografia impactante do garoto sírio Aylan Kurdi encontrado morto em uma praia da Turquia que virou símbolo da indiferença e da hipocrisia para alguns, leva qualquer cidadão comum a reflexões importantes.
A fotografia impactante do garoto sírio Aylan Kurdi encontrado morto em uma praia da Turquia que virou símbolo da indiferença e da hipocrisia para alguns, leva qualquer cidadão comum a reflexões importantes.
A foto não estava ali para ser usada na venda de algum produto, mas
simbolicamente para que lembrássemos que o futuro de nossas crianças não
pode morrer na praia. Nós temos nossos Aylans morrendo de bala perdida,
de inanição, de fome, na porta de hospitais, nas ruas, nos barracos das
favelas e sempre diante da indiferença das mesmas pessoas que dizem
“chocadas com imagem tão forte”! Ao ler esse artigo alguma criança está
tendo seu futuro interrompido em algum lugar desse planeta, e por que
não por aqui também? Um outdoor não deixa escolha e obriga os
indiferentes a ver a imagem polêmica. Não podem agir como fazem
cotidianamente, não podem fechar o vidro do carro para não atender á
criança pedindo nos semáforos. Que tal uma visita aos lixões? Uma
criança tomando água turva tirada de um barreiro disputada por animais
que jogam seus dejetos ali mesmo. Ou frequentar a fila do SUS com uma
criança doente ao colo. Que tal?
Ficam chocados com uma imagem que foram, de certa forma obrigados a
ver, mas não se importam com aquelas que o descaso e a indiferença fazem
questão de esconder dos olhos e da alma.
Para lembrar o comentário do jornal britânico “Independent”: “Se
estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada
a uma praia não mudarem as atitudes da Europa com relação aos
refugiados, o que mudará?” (G1). Imagens fortes têm o poder de levar
quem a vê a uma reflexão. O que queremos é que cada um de nós deixe de
lado a indiferença, faça sua parte, por menor que seja para que a cada
hora possamos salvar um Aylan numa praia da Turquia ou bem perto de nós
na aridez do nosso sertão.
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