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quinta-feira, 15 de outubro de 2015


Peça publicitária usa foto de menino sírio morto e causa polêmica na Paraíba

12143116_870987922978783_1498138927970286200_n12111956_935743726498745_8037440511419491902_nUma peça publicitária veiculada em João Pessoa causou polêmica esta semana por ter usado a imagem do menino sírio morto em uma praia da Turquia, registrada no início de setembro. A foto foi estampada em um outdoor em alusão ao Dia das Crianças e era acompanhada da frase “O futuro de nossas crianças não pode morrer na praia”.
Peça publicitária usou foto de menino sírio morto na Turquia (Foto: Reprodução/GCA Comunicação)
Peça publicitária usou foto de menino sírio morto naTurquia (Foto: Reprodução/GCA Comunicação)
A Abap ainda enfatizou que a fotografia foi utilizada sem o devido crédito e, aparentemente, sem a autorização do fotógrafo. O órgão também alertou que a agência GCA Comunicação está sujeita a possíveis sanções legais e de responsabilidade social.Nas redes sociais, internautas mostraram revolta pela utilização da foto. “Ato covarde e despudorado”, disparou Everaldo de Andrade Souza na internet.
“Não quero julgar ou criticar a intenção, mas imagine você, que criou esse anúncio, ver a foto do seu filho morto em outdoors espalhados por aí. A questão não é a criatividade ou a intenção, que sei que foi das melhores, mas o lance aqui é o fato e a foto usada”, publicou o internauta Marcell Mendonça.
Nesta quarta-feira (14), a Associação Brasileira das Agências de Publicidade – seccional Paraíba (Abap-PB) emitiu uma nota de repúdio à peça intitulada “Publicidade não é um vale tudo”. No documento, a Abap diz que os publicitários devem ser “conduzidos pelo código de ética profissional e pelo bom senso”.
“Em um fim de semana e feriado dedicados a nos lembrar da alegria e esperança que as crianças despertam na sociedade, a publicidade paraibana foi maculada com uma peça publicitária que pode ser definida como desproporcional e desnecessária”, diz a nota.
A agência também se manifestou depois da polêmica. Em uma nota de esclarecimento intitulada “A hora dos indiferentes”, a GCA Comunicação afirma que “a data seria apropriada para uma reflexão profunda do que se passa com crianças aqui e em outras partes”. Para a empresa, a fotografia do menino sírio levaria os cidadãos a fazerem essas reflexões.
A GCA também ressaltou que a foto não foi usada para a venda de um produto e sim para “que lembrássemos que o futuro de nossas crianças não pode morrer na praia”. “Ficam chocados com uma imagem que foram, de certa forma obrigados a ver, mas não se importam com aquelas que o descaso e a indiferença fazem questão de esconder dos olhos e da alma”, pontua o texto da agência.
Veja a nota de repúdio da Abap-PB na íntegra:
PUBLICIDADE NÃO É UM VALE TUDO
Em um fim de semana e feriado dedicados a nos lembrar da alegria e esperança que as crianças despertam na sociedade, a publicidade paraibana foi maculada com uma peça publicitária que pode ser definida como desproporcional e desnecessária.
A atividade publicitária tem como principal objetivo direcionar o interesse do público para determinadas marcas e, em quem é atingido por ela, despertar uma ação favorável à empresa, mas isso não nos exime da responsabilidade social de sempre sermos conduzidos pelo código de ética profissional e pelo bom senso. Não estamos em um vale tudo e, na sua vontade desenfreada de impactar, a agência extrapolou esses dois pontos. Acreditando estar fazendo um bom trabalho, acabou deixando evidente o despreparo profissional e chegando ao ponto de ser veiculado o outdoor nas principais avenidas da Capital sem a devida análise de como poderia repercutir. Agravando a situação, temos a exposição da fotografia sem o devido crédito e aparentemente sem a autorização do fotógrafo para uso da mesma.
A Associação Brasileira das Agências de Publicidade – seccional Paraíba (Abap-PB), repudia tal peça publicitária, alertando para as possíveis sanções legais e de responsabilidade social às quais a agência está sujeita.
Torcendo para que episódios como esse não se repitam, a Abap-PB espera que este momento sirva de reflexão e que ajude o mercado paraibano a crescer, se tornando referência em peças criativas e com mensagens positivas à toda sociedade.
Abap-PB
Veja a nota de esclarecimento da agência na íntegra:
A HORA DOS INDIFERENTES
A hipocrisia não é um privilégio nosso, mas é um sentimento que grassa mundo afora. Na comemoração do dia da Criança produzimos um outdoor, levando em conta que a data seria apropriada para uma reflexão profunda do que se passa com crianças aqui e em outras partes.
A fotografia impactante do garoto sírio Aylan Kurdi encontrado morto em uma praia da Turquia que virou símbolo da indiferença e da hipocrisia para alguns, leva qualquer cidadão comum a reflexões importantes.
A foto não estava ali para ser usada na venda de algum produto, mas simbolicamente para que lembrássemos que o futuro de nossas crianças não pode morrer na praia. Nós temos nossos Aylans morrendo de bala perdida, de inanição, de fome, na porta de hospitais, nas ruas, nos barracos das favelas e sempre diante da indiferença das mesmas pessoas que dizem “chocadas com imagem tão forte”! Ao ler esse artigo alguma criança está tendo seu futuro interrompido em algum lugar desse planeta, e por que não por aqui também? Um outdoor não deixa escolha e obriga os indiferentes a ver a imagem polêmica. Não podem agir como fazem cotidianamente, não podem fechar o vidro do carro para não atender á criança pedindo nos semáforos. Que tal uma visita aos lixões? Uma criança tomando água turva tirada de um barreiro disputada por animais que jogam seus dejetos ali mesmo. Ou frequentar a fila do SUS com uma criança doente ao colo. Que tal?
Ficam chocados com uma imagem que foram, de certa forma obrigados a ver, mas não se importam com aquelas que o descaso e a indiferença fazem questão de esconder dos olhos e da alma.
Para lembrar o comentário do jornal britânico “Independent”: “Se estas imagens com poder extraordinário de uma criança síria morta levada a uma praia não mudarem as atitudes da Europa com relação aos refugiados, o que mudará?” (G1). Imagens fortes têm o poder de levar quem a vê a uma reflexão. O que queremos é que cada um de nós deixe de lado a indiferença, faça sua parte, por menor que seja para que a cada hora possamos salvar um Aylan numa praia da Turquia ou bem perto de nós na aridez do nosso sertão.

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