Sequestro relâmpago: mulheres e idosos sob a mira de bandidos
Mulheres e idosos, de carro, saindo de agências bancárias, na orla de
João Pessoa ou em bairros nobres, ostentando objetos de valor ou mesmo
aparentando alguma fragilidade. Pessoas que se encaixem nesse perfil
podem ser futuros alvos de sequestros relâmpagos, de acordo com o
delegado titular da Delegacia de Roubos e Furtos, Walter Brandão.
Conforme o delegado, grande parte dos registros desses crimes tem como
vítimas pessoas nesse perfil.
Apesar de a polícia não ter revelado dados que pudessem demonstrar
uma frequência maior nesse tipo de casos, este ano alguns chocantes
foram registrados em João Pessoa apresentando essas características.
Três mulheres na orla da capital, com celulares à mostra, iam em direção
ao seu carro quando foram interpeladas por bandidos.
Eles as sequestraram, forçaramnas a entregar dinheiro e pertences e
ainda rodaram pela cidade, parando em um banco, onde foram obrigadas a
retirar dinheiro de um caixa eletrônico. “Meu medo era de deixar as
meninas no carro e ir ao banco sacar. Tinha medo de que quando voltasse,
o dinheiro não fosse o suficiente para eles e eles ficassem bravos”,
comentou a professora, revelando acreditar que nunca mais sua vida será a
mesma. “Agora eu sei que vou continuar a vida, mas com meu coração e
minha alma marcados por esta experiência.
Nunca mais vai ser do mesmo jeito”, comentou. Também vítima de um
sequestro relâmpago há poucos meses, a professora Maíra Costa disse que
parou o carro em uma rua por volta das 16h de um dia comum quando foi
abordada por dois homens. “Eu estava com meu filho no banco de trás,
então não tive reação. Mandaram eu ir para o banco do passageiro,
pediram meus pertences. Meu filho dormia e assim continuou, porque eles
não foram agressivos, mas me perguntaram onde era minha casa, se ela
estava vazia. Eu disse que não, que meu marido estava em casa, mesmo sem
eu ser nem casada. Eles falaram muita coisa e, certa hora, me deixaram
na BR com meu filho.
Nunca recuperei meu carro. Como tinha seguro, peguei outro”, contou.
Depois de passar por uma situação traumática assim, é impossível voltar à
rotina normal, de acordo com a professora. “Eu fiquei muito abalada
porque pensei que a qualquer momento eles poderiam me levar para um
local ermo, fazer alguma coisa comigo e depois nos matar. Eu agora não
ando sozinha para todo canto, vivo com medo, assustada. É impossível
tirar uma marca dessa da nossa vida. Nunca vou me esquecer”, disse.
Crime é comandado por detentos ou exdetentos O sequestro relâmpago
tem como principais alvos vítimas que pareçam ser mais frágeis, como
mulheres, idosos, e sempre tem como alvo pessoas que aparentem ter algo
que possa ser roubado. Ele tem prioritariamente o objetivo de realizar
algum tipo de roubo, por esse motivo sua investigação fica sob a
responsabilidade da Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio (Roubos e
Furtos).
De acordo com o delegado titular da Roubos e Furtos, Walter Brandão,
95% das pessoas que praticam esse tipo de crime são reincidentes, muitos
dos quais estão cumprindo, inclusive, pena no regime semiaberto. Além
dos criminosos reincidirem no crime, muitas vezes eles recebem
instruções de detentos presos no sistema carcerário do Estado. “Isso é
devido ao fato de a legislação penal ser muito branda, o que traz aquela
sensação de enxugar gelo. Se observarmos, 90% da população carcerária é
de reincidentes.
Esse é um desafio, não só da Paraíba, mas do Brasil: bloquear a
atividade criminosa dentro dos presídios”, declarou o delegado. Ele
lembrou, durante a reportagem, de uma denúncia recebida pelo 197 pela
polícia informando de que duas pessoas que nunca se viram teriam acabado
de se encontrar, com determinação de dentro dos presídios, para cometer
assaltos. “Seguimos eles e em menos de 3 minutos já estavam fazendo uma
vítima”, lembrou. Conforme Brandão, o sequestro não é o crime contra o
patrimônio mais frequentemente cometido e não se observa um aumento no
número de casos esse ano, contudo ele é recorrente e possui uma
particularidade. “Sabemos que as pessoas que pretendem cometer esse tipo
de crime observam bem a rotina das vítimas e escolhem áreas onde há uma
maior concentração de dinheiro: shoppings, bancos, na entrada de casas,
nas praias.
Eles saem buscando uma oportunidade, mas já com o objetivo de
realizar esse tipo de crime”, disse. Quando um caso de sequestro é
direcionado à delegacia para investigação, há a probabilidade ou não de
reencontrar os pertences das vítimas, mas, para que isso aconteça, o
delegado destacou a necessidade de uma declaração precisa do ocorrido
pela vítima. “O depoimento da vítima é imprescindível, pois ele é a
nossa principal prova. Por esse motivo, pedimos para que, com cautela, a
vítima observe sinais peculiares, como a forma pela qual ele abordou, a
frase que ele emprega na hora da ação. Tatuagens, composição física.
Observar de forma discreta”, aconselhou.
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