Atraso em conclusão de obras de educação prejudica moradores da PB
O atraso
na construção de obras de educação na Paraíba tem prejudicado os
moradores de vários municípios. Em muitos casos, as construções ficam
paradas e, com o tempo, parte do que foi construído acaba se destruindo.
Muitas vezes, além do dinheiro que já foi gasto, vai ser necessário
gastar ainda mais do dinheiro público para reformar um prédio que nem
chegou a ser inaugurado.
Para
acompanhar de perto a situação de várias obras que estão inacabadas,
abandonadas, ou em andamento, mas com atraso de muitos anos, o G1
viajou com uma equipe da TV Cabo Branco, percorrendo aproximadamente 3
mil quilômetros durante 11 dias. Foram visitadas 21 cidades, do Litoral
ao Sertão, totalizando 34 obras, divididas nas categorias de educação,
saúde, abastecimento e saneamento básico, pavimentação, casas e apoio e
bem estar e serviços.
Em seis cidades que o G1 visitou,
encontramos uma escola e cinco creches em que as obras começaram, mas
sem aviso para a população, os trabalhadores recolheram os materiais e
foram embora, deixando o serviço incompleto.
Placa da obra da escola de Dona Inês caiu com a força do vento (Foto: Diogo Almeida/G1)
Na cidade de Dona Inês,
no Agreste paraibano, o atraso na construção de uma escola com seis
salas de aula deixa indignados os moradores do Loteamento Tapuio. “Meu
filho vai terminar o ano agora, vai sair da creche e ser transferido
para alguma escola que ainda não sabemos onde é. Como a escola que tem
aqui perto não foi terminada, possivelmente vamos ter que levar os
filhos para estudar em algum lugar bem mais longe”, disse o agricultor
José Márcio de Sousa, pai de Márcio Maciel, de seis anos.
A obra,
uma parceria do Governo da Paraíba com a Prefeitura Municipal, custou R$
578.808,21 e começou a ser feita em março de 2014, com previsão de
conclusão para o mês de dezembro do mesmo ano. O G1 esteve
no local no dia 17 de agosto e encontrou uma obra parada, com partes
destruídas, inclusive a placa com os dados da construção, que também
desabou com a força do vento.
Segundo a
placa, a obra faz parte do programa Pacto pelo Desenvolvimento Social da
Paraíba – Contrapartida Solidária e tem o objetivo de reduzir a
distorção idade-série do ensino fundamental, além de aumentar o número
de matrículas na educação infantil e no ensino fundamental.
José Márcio reclama da distância onde fica a
creche atual do município (Foto: Diogo Almeida/G1)
creche atual do município (Foto: Diogo Almeida/G1)
A
construção fica próximo a uma creche, onde estuda o filho de José
Márcio. A ideia, segundo o agricultor, era de que os alunos que saíssem
da creche já entrassem para estudar na escola, sem sair do bairro onde
moram.
“A gente
não sabe o motivo da obra não ter sido terminada, mas sabemos que está
parada e isso atrapalha os estudos, principalmente porque a gente [os
pais dos alunos] não sabe onde nossos filhos vão estudar. A escola mais
próxima é longe daqui e quem não tem veículo, e tem que ir a pé para
deixar os filhos na escola, já chega lá cansado, e isso compromete o
desempenho”, lamentou.
A
prefeitura diz que mais de 40% da obra foi feita, mas apenas 24% do
valor da obra foi pago, e que para a empresa que ganhou a licitação
continuar o trabalho, é necessário que o Governo do Estado pague o
restante do valor. Já o governo estadual diz que está pagando à
prefeitura as parcelas que foram acertadas e que o repasse foi dividido
em oito parcelas, sendo que a terceira delas vai ser paga ainda em
setembro. Ainda de acordo com o Governo do Estado, o acordo foi feito em
maio deste ano e o pagamento demorou para começar a ser feito porque a
prefeitura teria atrasado a entrega de um documento.
Obra de Araçagi está 95% concluída, mas está parada há mais de dois anos (Foto: Diogo Almeida/G1)
Em Araçagi,
no Agreste do estado, uma creche orçada em quase R$ 1,3 milhões está
com cerca de 95% da obra concluída, mas ficou parada por mais de dois
anos após, segundo a prefeitura, a construtora desistir do
empreendimento, mesmo tendo recebido quase o valor total estimado. “É
uma obra que se iniciou na gestão passada e ficou inconclusa. Já pedimos
à assessoria jurídica para tomar as providências necessárias e saber o
que aconteceu. O valor total da obra foi pago quase todo e ela não foi
construída”, explicou Antônio Lisboa, atual engenheiro civil da
prefeitura de Araçagi.
Severina Mendes acreditou que o neto, Miguel,
fosse estudar na creche (Foto: Diogo Almeida/G1)
fosse estudar na creche (Foto: Diogo Almeida/G1)
A cidade
só tem uma creche, com capacidade para 70 crianças, e fica no centro da
cidade. A população reclama que não tem como colocar todas as crianças
no local e que fica muito longe para famílias que moram distantes do
centro.
A dona de
casa Severina Mendes lembra que antigamente tinha um ônibus que pegava
os alunos do bairro e levava até o centro, mas atualmente ele não
circula mais e que isso fez com que muita gente desistisse de colocar as
crianças na creche.
“Quem mora
longe é uma tristeza, as mães não podem trabalhar porque têm que ficar
cuidando dos filhos, se tivesse essa creche aqui perto, seria muito
melhor”, comenta a dona de casa. Ela é avó de Miguel, de quatro anos,
que deveria ter sido matriculado na creche, caso ela tivesse sido
concluída em 2012, quando foi previsto, mas acabou ficando sem estudar
por morar longe da creche. “A gente mora aqui pertinho, deslocar para o
centro é muito complicado”, disse Severina.
Para
concluir o projeto, a gestão atual da prefeitura chegou a fazer um
contrato de cerca de R$ 298 mil e em novembro de 2014 a construção foi
retomada, mas voltou a parar. O engenheiro civil da prefeitura conta que
a firma que venceu a licitação não quis continuar a obra. “Pedimos o
cancelamento e o distrato [anulação] com a empresa. Iremos agora fazer
uma nova licitação. O problema é que como este restante deve ser feito
com recursos próprios, vamos ter que alargar o prazo de conclusão”,
prevê.
“É uma
obra muito cara para a prefeitura bancar sozinha e estamos tendo que
fazer isso pois o dinheiro que veio do Governo Federal foi usado e ela
não foi concluída”, alegou Lisboa. De acordo com o Ministério da
Educação, o valor da obra foi repassado integralmente ainda em 2012 e
que conforme vistorias, problemas como descumprimento de contrato e
falhas na execução do serviço podem ter sido os motivos para a não
conclusão da obra no tempo serviço.
Creche de Serra Branca foi orçada em mais de R$ 1,3 milhões (Foto: Diogo Almeida/G1)
Problema semelhante aconteceu no município de Serra Branca,
no Cariri do estado. A creche, orçada também em pouco mais de R$ 1,3
milhões deveria ter sido construída até janeiro de 2013, no bairro dos
Pereiros. A obra ficou quase concluída, ainda tem materiais de
construção no local, mas a prefeitura diz que o Governo Federal demorou
para pagar parte do serviço e a construtora abandonou a obra. A
prefeitura entrou com uma ação para desbloquear a verba e terminar a
construção.
O
Ministério da Educação informou que a obra está com percentual avançado
de execução, com 96% do projeto concluído. Todo o projeto foi repassado
pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), com o último
repasse sendo realizado em janeiro de 2013. O órgão afirma ainda que não
foi informada uma justificativa para a não conclusão da obra, e que
atualmente existe um saldo de R$ 111.961,08 na conta bancária relativa à
obra.
Enquanto a
creche não fica pronta, a população é quem reclama da demora.“Na época
em que a obra era pra ficar pronta, eu acreditei que meu filho ia
estudar lá. Fiquei feliz porque ia ter uma creche perto de casa, mas daí
a obra parou, os anos passaram e eu tive que levar meu filho, que agora
tem seis anos, para uma outra escola, perdendo cerca de meia hora todo
dia para deixar e buscar ele no colégio. É lamentável, “ diz a dona de
casa Francisca Guilhermina.
Construção de creche em Jacaraú (Foto: Reprodução/TV Cabo Branco)
No município de Jacaraú,
no Litoral Norte do estado, uma creche que está sendo construída pela
mesma construtora responsável pela creche de Araçagi, também está com a
obra paralisada. Segundo Flávio Vasconcelos, chefe de gabinete do
prefeito do município, a prefeitura recebeu em setembro deste ano um
relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) em que, após uma
auditoria, ficou constatado que todos os pagamentos efetuados na atual
gestão estão dentro da legalidade. Ele explica ainda que a construtora
informou que 76% da obra está concluída e que a construção só está
parada pois o FNDE não repassou a quarta e última parcela do valor total
da obra.
O FNDE
explica que 75% dos recursos da obra já foram disponibilizados, mas que
de acordo com os dados do fundo, o percentual de execução da obra
atualmente, conforme vistoria do fiscal da prefeitura, é de 69%. O órgão
explica que a não conclusão da obra não se deve à não liberação de
recursos por parte do FNDE, já que pouco mais de R$ 945 mil já foram
liberados.
Creche
de Catingueira está parada desde 2009, e o prefeito atual não sabe para
onde foi o dinheiro liberado para a construção (Foto: Diogo Almeida/G1)
Já em Catingueira,
no Sertão paraibano, a situação é bem mais complicada. A obra da creche
do município começou em 2008, quando o Ministério da Educação liberou
cerca de R$ 700 mil para a construção. A obra começou, mas parou em
2009, com apenas 10% do prédio concluído. A prefeitura chegou a ser
notificada e, na época, explicou que os trabalhos foram parados por
causa de fortes chuvas que alagaram o município.
O
problema, segundo relatórios do Ministério da Educação, é que do
dinheiro que foi pago à prefeitura, só restava R$ 1,94 no caixa, apenas
um ano depois do início da construção. O atual prefeito, Albino Félix
(PR), explica que a prefeitura não sabe onde o dinheiro foi parar. “Eu
tenho o conhecimento que houve o pagamento na gestão passada e estamos
avaliando o caso para saber o que a gente pode fazer para continuar a
construção. A verdade é que o dinheiro está sendo jogado fora. Vamos
avaliar e trabalhar para que esta creche seja entregue após passar quase
seis anos parada”, disse o gestor.
Fotografia de 2010, na parede da prefeitura de Catingueira já mostra a obra parada (Foto: Diogo Almeida/G1)
Enquanto
as obras ficam inertes, os moradores vêem o tempo passando e o dinheiro
indo embora, mesmo sem ser movimentado.”Acaba que a comunidade que perde
o sonho de estudar em uma escola nova. A tendência é a obra que está
incompleta se deteriorar e ter que se gastar mais dinheiro nosso para
concluir”, comenta Fernando Lúcio, presidente do Sindicato dos
Servidores Municipais de Dona Inês.
Dona
Severina, de Araçagi, resume o sentimento dos moradores. “É uma pena a
obra ficar ali se acabando. A construção não foi concluída, as crianças
ficam em casa e o dinheiro que foi investido para elas acaba ficando
perdido.”, concluiu.
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